Policiais, histórias aos quadradinhos
Entre os 15/16 anos de idade tomei contacto com os livros policiais do FBI. Uma leitura entusiasmante. Ação policial, tiros, aventuras, carros, fugas, perseguições, armas, penitenciárias, Alcatraz, tribunais, interrogatórios, tudo ao melhor estilo americano.
Acontece que não tinha mealheiro para comprar livros, muito menos policiais. Foi então que alguém me informou que na rua da Carreira (no centro do Funchal), no 3.º andar de um velho edifício, situado ao lado da “Padaria Lua”, havia um alfarrabista que alugava livros por um escudo. Lá fui bater. Lá fui dezenas de vezes e de lá li inúmeros livros sempre com o mesmo escudo, por caução.Um desses livros do FBI tinha o subtítulo: “Quero ir preso”. Era um ocioso misantropo que, ao anoitecer, assaltava quem passava. Eram cenas de todos os dias a partir de determinada hora. Até que certo dia um dos transeuntes reagiu:
Devias era ir para a prisão. “Pois (respondeu), mas eu quero é ir para a prisão, chame a polícia e diga que eu lhe assaltei. Eu quero ir preso. Na cadeia tenho cama, refeições, duche, roupa lavada, lâminas para a barba, e se ficar doente dão-me medicamentos e até levam-me ao médico”.O ocioso americano chamava-se Caryl Chessman, livro “2455 – Cela da Morte”. Não escolheu a cadeia nem a cela. Saiu da prisão e enveredou por negócios ilícitos. De regresso à cadeia, foi condenado à morte.
Na América, os presos não escolhem a cadeia onde querem ficar. Isso só acontece num Portugal bestial, politicamente debilitado e judicialmente imprevisível. Nos EUA, com Trump ou sem Trump, a realidade não desvirtua o acto.
Livros do FBI... já não há! Só... no alfarrabista.