Aprendi que é possível viver no estrangeiro sem saber falar o idioma do país onde estamos. Aprendi que podemos dialogar em qualquer língua sem profundos conhecimentos socioculturais. Aprendi que o humano tem uma capacidade ilimitada para aprender durante toda a vida! Aprendi que estamos sempre no infinito do verbo.
Fala a experiência inolvidável: Escola oficial, em Bruxelas, só com alunos estrangeiros e professores belgas. A turma tinha 26 alunos de ambos os sexos oriundos de 17 nacionalidades (japoneses, ingleses, congoleses, tailandeses, americanos, alemães, italianos, egípcios, turcos, espanhóis, cazaquistaneses, russos, noruegueses e outros cuja origem já não me recordo). Eu era o único português. Uma panóplia de nacionalidades que nos desafiava a comunicar em francês mas também na “nossa língua”.
Nos testes todos estavam entregues a si próprios. O silêncio no anfiteatro era desafiante à capacidade do estudo feito. Ninguém podia sair sem responder, por escrito, a todas as questões. As provas orais davam notas e sons figurativamente orquestrais. Um japonês a falar francês é como ver as palavras a fugir da partitura. O russo ouve-se ao baixo e o turco nos agudos. Tudo muito a sério.
A melhor nota é que no final do “curso” todos se entendiam em todas as línguas, com a língua francesa em destaque. Foi a turma mais empenhada e estudiosa que conheci em toda a minha vida académica, desde a primária à universidade. Aprendi que o humano nasce com dotes para todos os desafios, basta querer! Aprofundar o estudo de língua estrangeira no estrangeiro é culturalmente um precioso desafio.