O truque é não se olhar no espelho
A mais velha campeã olímpica do mundo, a ginasta húngara Agnes Keleti, festeja hoje (9 de Janeiro de 2021) o seu 100.º aniversário. Referência na ginástica artística mundial, a sua existência ficou ainda marcada pela experiência dramática do Holocausto, onde perdeu quase toda a família (de origem judia) nos campos de concentração. A sua sobrevivência deve-se a muitos disfarces e falsificações de identidade para escapar aos nazis.
Natural de Budapeste, iniciou-se na ginástica aos seis anos de idade. Quando se preparava para competir a nível internacional, foi “apanhada” pela II Guerra Mundial e com a ascensão de Hitler na Europa. Passados os anos de “medo e de luta pela sobrevivência”, Keleti retomou a carreira de atleta e tornou-se imparável na conquista de “títulos nacionais, europeus e olímpicos”, com destaque para as cinco medalhas de ouro nas Olimpíadas de Helsínquia (1952) e Melbourne (1956).
Apesar de centenária, considera-se ainda jovem: "Sinto-me bem: o truque é não precisar de se olhar no espelho. Foi assim que me mantive sempre jovem”, disse aos jornalistas. “Não me deixam fazer o exercício de abrir as pernas. O meu enfermeiro acha que é pedir muito na minha idade”, acrescentou a atleta de ouro em “tom de brincadeira”, enquanto exibia um novo livro publicado por ocasião dos seus 100 anos. Além disso, confessou: “Eu praticava desporto não porque isso me fazia bem, mas para ver o mundo”. A música também foi uma das suas paixões: “Eu era violoncelista. Amava música e podia escolher a música que me desse os movimentos. (...) Gostava de me mover junto com a música”. Quanto à alimentação, não tem grandes restrições e gosta de “comer chocolates”.
Em quem acreditar?
No civismo ou no cinismo? Na dúvida ou na desconfiança? Na aversão ou no ódio dos políticos candidatos à presidência da República? São perguntas que se impõem numa altura em que se aproxima o dia da eleição, 24 de janeiro, do novo Presidente da República (2021-2026). Não embarcamos na lengalenga politiqueira, na avalanche oca dos candidatos, nos mil e um feitos e defeitos que todos aparecem a combater com toda a valentia do mundo. Portugal é dos países mais pobres da União Europeia. O nosso país tem os salários mais baixos, uma baixa produtividade per capita, qualificações profissionais aquém das necessidades e uma distribuição de riqueza que, nalguns sectores, roça a exploração da escravidão humana.
Quando as coisas correm mal os políticos e governantes rebuscam exemplos de outros países, em vez de nos darem soluções. Mas os outros não somos nós, nem nós somos os outros, passe a redundância. Donald Trump e Joe Biden são políticos de uns Estados Unidos “potência mundial”, podem cometer misérias que continuam incomparavelmente mais ricos e mais poderosos do que qualquer outro país, incluindo a Rússia, China e Alemanha. Não devemos aceitar comparações incomparáveis. René Descartes (1596-1650), filósofo e matemático francês, dizia que nem tudo o que parece é: “um telefone tem campainha, a escola tem campainha, mas a escola não é um telefone nem o telefone é uma escola”.
Em quem acreditar? Devemos sempre pôr em causa o que nos dizem ser verdadeiro? Devemos dar mais atenção e valorizar o método da dúvida cartesiana? As redes sociais (internet) são potencialmente vias de comunicações perigosas, porque por detrás do écran podem estar (e estão) graves inconveniências? Se até os presidentes da República mentem; se até os governantes mentem; se até os políticos mentem; se até os superiores magistrados da justiça mentem; se até as autoridades policiais mentem; como podemos aceitar tudo como verdadeiro o que nos dizem? Só há uma maneira: Duvidar sempre até o pleno conhecimento dos factos. O futuro passa depressa e o presente já é passado. Com optimismo, apesar de tudo. Bom Ano!
João Godim
FREELANCER
Mil Canções
dos últimos 30 anos
>REPORTAGENS