Folhas caídas indiciam velhice
Estação com múltiplas referências populares, o Outono apresenta-se como transição para um tempo mais calmo, porventura mais reflexivo, introspectivo, e limitado do ponto de vista das euforias ou exteriorizações permitidas pelo Verão que sucede no calendário. Outono poderá ainda sugerir outros estados de alma, do género "estamos a envelhecer" ou a ficar com um dia de vida "a menos", a exemplo do estado natural das "folhas caídas" nesta época... No entanto, a velhice não está na idade, nem na incapacidade física, mas na mentalidade.
Perante a natureza, o ser humano é único porque resiste às adversidades e tudo faz para encontrar, inventar, descobrir recursos para a sua continuada sobrevivência. Além disso, a imaginação humana é fértil na produção de máximas e provérbios que lhe garantem uma certa sabedoria para não sucumbir a qualquer preço.
No caso do Outono, ainda ligado à natureza, os ditados populares e tradicionais ligam-se aos frutos mais consumidos neste tempo - as castanhas. Lembremos alguns:
- A castanha é de quem a come e não de quem a apanha.
- A castanha tem três capas de Inverno: a primeira mete medo, a segunda é lustrosa e a terceira é amarga.
- A castanha tem uma manha: vai com quem a apanha.
- A castanha veste três camisas: uma de tormentos, outra de estopa e outra de linho.
- Ao assar as castanhas, as que estouram são as mentiras dos presentes.
- Arreganha-te, castanha, que amanhã é o teu dia.
- As castanhas apanham-se quando caem.
- Castanha assada, pouco vale ou nada, a não ser untada.
- Castanha bichosa, castanha amargosa.
- Castanha que está no caminho é do vizinho.
- Castanha quente só com aguardente, comida com água fria causa «azedia»
- Cruas, assadas, cozidas ou engroladas, com todas as manhas, bem boas são as castanhas.
- Mais vale um castanheiro, que um saco de dinheiro.
- O ouriço abriu, a castanha cai.
- Sete castanhas são um palmo de pão.
Bom alimento, próprio desta altura do ano, as castanhas são rainhas na gastronomia portuguesa, para já não falar da popular castanha assada na rua, com os pitorescos fogareiros e o "Homem das Castanhas" como no fado de Carlos do Carmo: https://www.youtube.com/watch?v=1PN0zy0XaOQ
> "Na Praça da Figueira, / ou no Jardim da Estrela, / num fogareiro aceso é que ele arde. / Ao canto do Outono, à esquina do Inverno, / o homem das castanhas é eterno. / Não tem eira nem beira, nem guarida, / e apregoa como um desafio. (...)
Quem quer quentes e boas, quentinhas? / A estalarem cinzentas, na brasa. / Quem quer quentes e boas, quentinhas? /
Quem compra leva mais calor p'ra casa. " (...)