«Mensagens de Quarentenas 'Covid-19'», o livro do P. Doutor Aires Gameiro, publicado no passado mês de Agosto, pela Paulinas Editora, já vai na segunda edição. Elaborado durante o tempo de "confinamento", considerado pelo autor como "um período rico, espiritualmente falando”, reúne vários artigos, entrevistas e mensagens, de forma quase diária, e com propostas de reflexão oportuna.
“Um livro interactivo, de colaboração com todos aqueles que foram respondendo a mensagens e a pequenos artigos que fui escrevendo durante a quarentena, quando não tinha muito que fazer e tinha de estar mesmo no quarto, confinado”, explica o sacerdote da Ordem Hospitaleira de S. João de Deus.
Com esta segunda edição, a obra continua disponível nas livrarias e revela-se como um documento indispensável para uma serena e aprofundada interpretação dos dias em que vivemos, em permanentes "quarentenas do Covid-19".
As primeiras letras
As primeiras letras..., o abc, a "Cartilha Maternal", ..., eram a magia do 7 de Outubro no antigamente, a data do início do ano escolar para as crianças em Portugal. A "Cartilha Maternal " , escrita pelo poeta e pedagogo João de Deus (1830-1896) e publicada em 1876, tinha um método "pedagógico" natural, baseado em palavras e sons muito conhecidos dos "aprendizes" da leitura, e tornou-se numa das "obras mais vezes reimpressas" de todos os tempos.
Como processo de aprendizagem para aprender as ler nas escolas, a Cartilha Maternal foi adoptada oficialmente pelas Cortes (Parlamento) em 1888 e a partir de 1911, já com o regime republicano, difundiu-se em quase todo o País, coincidindo também com a criação de uma rede de Escolas Primárias para a "instrução pública".
Mas, ainda antes das" Escolas Primárias" públicas, João de Deus e os seus descendentes promoveram em 1882 a fundação de "escolas autónomas", através da "Associação das Escolas Móveis pelo Método de João de Deus"; escolas essas que dariam depois origem aos "Jardins Escolas" de tão boa memória.
Este trabalho pedagógico de João de Deus foi aplaudido por toda a gente, incluindo nomes famosos da linguística, como a Professora e investigadora Carolina Michaëlis de Vasconcelos (1851-1925) que escreveu, em 1877, no jornal do Colégio Portuense, "O Ensino", o seguinte: (...) com a Cartilha do Senhor João de Deus entramos num mundo novo; tudo mudou de aspecto, tudo se tornou simples, lúdico, transparente. O novo pedagogo vai guiando o discípulo passo a passo; não o mete num labirinto; apresenta-lhe um plano disposto na melhor ordem e assenta no seu lugar, uma a uma, as pedras do edifício, que são os elementos da língua. Dá a conhecer as letras uma por uma, assim como a sua aplicação e só no fim constitui a cadeia do alfabeto, ligando estes seus elos; não desmembra as palavras em sílabas, as sílabas em letras, apresenta à criança a flor intacta."
Um método de aprendizagem parecido com o de João de Deus seria desenvolvido mais tarde pela italiana Maria Montessori (1870-1952), a primeira mulher a se formar em medicina no seu País, mas também "pioneira no campo pedagógico" ao dar mais espaço à "auto-educação" do aluno, em vez de privilegiar o papel do professor como única fonte de conhecimento. "Ela acreditava que a educação é uma conquista da criança, pois percebeu que já nascemos com a capacidade de ensinar a nós mesmos, se nos forem dadas as condições".