Pobreza e analfabetismo
"Eduquemos cidadãos, não príncipes", a afirmação é de Bernardino Machado (1851-1944), político português, presidente da República, por duas vezes, tornou-se numa prioridade para a execução dos ideais republicanos em Portugal, com a proclamação da República, a 5 de Outubro de 1910, da varanda da Câmara de Lisboa, por José Relvas. A primeira tentativa da oposição monárquica só aconteceria um ano mais tarde, com um levantamento no Norte, comandado por Paiva Couceiro.
Os primeiros tempos do novo regime não foram fáceis, mesmo entre os partidos que discutiam entre si a melhor governação para fazer face às inúmeras dificuldades do País, em que a pobreza e o analfabetismo (mais de 70.% da população) pesavam demasiado. Não bastava mudar de nome, era preciso actuar rapidamente sobre grandes problemas que já vinham do passado. Neste contexto, formou-se uma Assembleia Constituinte, para preparar a nova Constituição, ou Lei fundamental do País - que seria aprovada em 1911, e as eleições livres. Destacaram-se, desde logo, três políticos com posições divergentes:
Afonso Costa (1871-1937), mais à esquerda, advogado de grande prestígio, que decidiu sobre, por exemplo, a "lei da família", para permitir o reconhecimento dos filhos ilegítimos, e a lei civil, para o casamento não religioso e a separação da Igreja do Estado; Brito Camacho (1862-1934), rico proprietário do Alentejo, mais ao centro, moderado; e António José de Almeida (1866-1929), médico especialista em doenças tropicais, seria o sexto Presidente da República, e que preferia também uma transição mais suave.
Mesmo assim, o "governo provisório", formado no dia "5 de Outubro de 1910", liderado por Teófilo Braga e formado por estes políticos e chefes partidários, foi produtivo, com medidas assertivas para as urgências do momento. Os que se seguiram, sofreram de muita instabilidade e poucos resultados obtiveram nos seus esforços de progresso e desenvolvimento social, atingidos ainda pela I Grande Guerra e a "pneumónica" com milhares de vítimas... Entre 1911 e 1926 (início da ditadura militar que levaria depois ao "Salazarismo"), houve 44 governos, o que dá uma ideia do ambiente em que então se vivia. Mas a data "5 de Outubro", ficou para a posteridade e deu ainda nome a muitas avenidas, ruas e praças do nosso País.
Além dos principais protagonistas da implantação da República em Portugal, acima citados, não se pode também esquecer aquele que foi considerado o "herói" - Machado Santos (1875-1921), ligado à Armada, que "desempenhou um papel central no 5 de Outubro" , e a quem foi dado o título de "Herói da Rotunda", e "pai da República". Foi eleito deputado às Constituintes, mas cedo "manifestou sinais de desagrado face ao andamento da política na República, expressando a sua opinião no jornal que funda e dirige (O Intransigente) e passando da palavra aos actos, organizando ou participando em vários movimentos insurreccionais". Morreu, assassinado, na "noite sangrenta" de 19 de Outubro de 1921.