Ao navegador italiano Cristóvão Colombo (1451–1506) é atribuída a descoberta da América, em 12 de outubro de 1492. Anos antes esteve na Madeira e no Porto Santo. Nessa última ilha casou com Filipa Moniz, natural da ilha, e residiu no edifício hoje transformado em “Casa Museu Colombo”. Terá sido no Porto Santo que começou a preparar a grande viagem que o levou à descoberta do continente americano.
Todos os anos, em setembro, tem lugar um festival que recorda a chegada de Colombo ao Porto Santo, desde a recriação do desembarque, exposições de artesanato, concertos musicais alusivos à época e jogos medievais. Este ano, o Festival Colombo voltou a “brilhar” mas, devido aos condicionamentos impostos pelo Covid-19, o evento sofreu alterações no que concerne à programação e duração. O Festival Colombo porto-santense, nos moldes em que está projectado e é apresentado, é referido como único no mundo.
Idosos em leituras de portugalidade
Esperava-nos, para o dia seguinte, a cidade de troncos e contos, trancada por muralhas, chamada Trancoso. Trancoso pede meças a Alfaiates como cidade de histórias e antecedentes de Portugal. A incursão levou os gerontes para o centro histórico; sentaram-se junto à árvore de grosso tronco e “idosa” para foto; visitam o túmulo do profeta Bandarra na matriz, a ombrear com outro profeta, Padre António Vieira. Sim, o da estátua que em Lisboa quiseram danificar por querelas racistas em que a direita instrumentaliza a esquerda.
O túmulo do Bandarra lá está na Igreja matriz,a qual tem ao seu lado a da Misericórdia. Mas em Trancoso ocorreu um casamento real em 1282 de D. Diniz com D.Isabel, ainda mais famoso que o realizado em Alfaiates de D. Beatriz de Castela com o Rei Afonso XI de Castela, em 1328. A visita ao Castelo de Trancoso revelou uma curiosa originalidade: em cada degrau de aproximação lá estavam narrados os factos essenciais de cada época desde os tempos cristãos visigóticos e os mouros até ao século XX. A visita fez lembrar “Colóquio sobre Profetismo:de Bandarra a Vieira, Trancoso, 16 de Maio de 2008” em que um do grupo apresentou “Profecia em S. João de Deus”.
Os velhotes queriam distrair-se e aprender, sem se esgotarem. Com devidas cautelas tiveram almoço ligeiro no restaurante do museu e logo rumaram para o santuário-mãe de tantos outros, em vários continentes: Nossa Senhora da Lapa que o cientista Fernando Carvalho Rodrigues divulgou no livro “Convoquem a alma”. Bastantes peregrinos, não muitos devido à pandemia que não permitia o acesso à fenda da Lapa que a lenda tornou juiz dos salvos e dos condenados: passa, salvo; gordo demais, não passa, condenado. A tradição lendária do santuário é bonita e vai até aos tempos de ocupação dos mouros e libertação pelos cristãos: Conta a cura de menina muda que gritou a deter a mãe a queimar a imagem que ela tinha achado e guardado.
Chama-nos o vale do Douro, não tanto pelo vinho, mas pelos socalcos de vinhas a perder de vista. Os êxtases dos velhotes repetem-se desde Penedono, S. João da Panasqueira, Tabuaço, Pinhão, Régua... Do carro fresco, gozava-se o espetáculo de colinas e mais colinas, dobradas e sobrepostas, sem fim, com miríadas de socalcos de parreiras verdejantes, semeadas de casas, quintas e adegas, a matizar de brancos e coloridos o terreno de xisto que reflete o calor que amadurece as castas de uvas e as transforma em mostos variados. Virão a ser o néctar do vinho do Porto É o vale xistoso do rio Douro que lhe dá qualidade.
Fora do carro, porém, Pinhão e Régua são fornos de mais de 35 graus a dizer: não se demorem, vão, vão! Cruzeiros, só um barco subia, pachorrento, ao lado de dois parados, à espera de ordens do coronavírus. Fomos pedir a Nossa Senhora dos Remédios que nos remediasse desta pandemia, agora que Lamego se animava na novena da sua festa, vestida de gala, mas pouco frequentada. Só umas feiras de “cacaria” artesanal, de artigos utilitários, roupas de remediar, e pouca gente no recanto da maquinaria de entreter. Poucas crianças e poucos forasteiros, escadaria santa quase vazia. O covid-19 aconselha-nos noite de descanso no agradável “Cerrado”.
Muralhas de Trancoso
O dia seguinte seria de mais festa, e, para nós, oportunidade de dar um salto pelas montanhas acima à procura de Cárquere, na rota do românico, onde visitámos o mosteiro-santuário relacionado com o lendário início do reino portucalense, e não já só Lusitânia com a capital em Mérida. Aquela capelinha (mausoleu dos Resendes) teria sido a da cura das perninhas do bebé D. Afonso Henriques introduzido pela fresta; ter-se-iam endireitado. Segundo outra versão, Egas Moniz teria trocado o bebé Afonso pelo bebé Moniz, seu filho escorreito, e assim lhe dar, a este, o trono do reino que ia começar...Haverá alguma história na lenda de Nossa Senhora de Cárquere? Respondam os sábios. O mosteiro está em obras por mais de um milhão para se abrir ao turismo. Na Igreja românica (paroquial) descobriram frescos medievais visíveis ao deslisar os retábulos dos altares laterais.
Em cinco dias, os três subiram aos cumes da Rainha do Céu e da terra; desceram ao rio do vinho, peregrinaram a santuários, admiraram campos e arvoredos, rebanhos de ovinos e bovinos, gente de férias e de trabalho. Começaram com máscara por um lar e o cronista ia visitar mais quatro a seguir; um deles, com 40 anos, no adro de S. Simão de Litém onde celebrou missa campal com cerca de 150 cristãos praticantes. Foram férias a ler muitos níveis de sentido e agora, terminadas em retiro, em Fátima, sobre comunidades lideradas pelo Espírito; e visitas a mais amigos em dois lares de idosos e mais prendas de livros.
> Pe. Aires Gameiro