> Morriam-nos, para não nos matarem, este era o segredo; Se nos matassem, a culpa seria deles; se nos deixássemos morrer, o ónus seria levianamente nosso. Mário Lúcio Sousa, "O diabo foi meu padeiro", D. Quixote (2019).
No próximo dia 9 de outubro, às 18h30, receberemos no Museu do Aljube Resistência e Liberdade o escritor cabo-verdiano Mário Lúcio Sousa para uma conversa à volta do seu romance “O Diabo foi meu Padeiro”.
Este seu livro aborda de forma muito crua e urgente a resistência dos presos políticos enviados para o Campo de Concentração do Tarrafal a partir de 1936, a sua memória e a das gentes de Chão Bom que viveram e conviveram de muito perto a experiência tenebrosa deste campo de morte lenta.
Mário Lúcio Sousa é um dos autores mais inovadores da sua geração, e da literatura escrita em português. Nascido em Cabo Verde, no Tarrafal, em 1964, licenciado em Direito pela Universidade de Havana, foi Ministro da Cultura do seu país, no mandato iniciado em 2011, e um autor de vastos e plurais recursos, com diversos títulos publicados, entre poesia, teatro e romance, contando já no seu currículo com os Prémios Literários Carlos de Oliveira e Miguel Torga e o Prémio do P.E.N. Clube.
Uma conversa com a participação do autor, Mário Lúcio Sousa e, da editora Maria do Rosário Pedreira, seguido de um momento musical. A sessão também poderá ser acompanhada em direto na página de Facebook do @museudoaljube. Devido à pandemia, a lotação presencial é limitada.
Subidas à montanha abençoada
Na vastidão da Beira Alta e do Riba Coa, a partir do tratado de Alcanizes (1297), sobrepõem-se marcos de identidade nacional, raízes cristãs e marianas em santuários, igrejas e castelos. Mais ao norte, a Praça forte de Almeida chama os anciãos a visitar a original “Casa da Memória”. Entretanto, pelo caminho, um dos guias, narra a suas andanças e encontros com colegas médicos. Uma delas rezava assim: perguntava, à vez, um deles: de quem é que vamos falar mal, hoje? As narrativas de humor não param nos tempos de recreio. Mas, falava eu da Casa da Memória. O que é? Uma Casa nobre da história de Almeida, restaurada a rigor e mobilada por um Professor da História da Arte. Valeu a pena esta novidade na Praça Forte. Tinha cavalariça para 12 cavalos, sala de trono (!), capelinha, esconderijo... O cronista do grupo repetiu o gesto de oferecer o seu livro, Mensagens de Quarentena, ao amigo, criador deste projeto cultural, Augusto Moutinho Borges.
O guia-mor teimou que haveria atividade fora. A famosíssima “Nuestra Señora da Penha de Francia” em pináculo de 1800 metros esperava a nossa visita, a uns 80 kms. Cenário de maravilha, de sol sem nuvens, a deixar ver, do miradoiro, cordilheiras da serra da Estrela a Ávila. Convite ao enlevo pelas alturas e abóbada celeste em que Nossa Senhora reina sobre os seus territórios, desde que foi encontrada ali a sua imagem por Simão Vela em 1434, e os protege apesar de tantas de guerras e pandemias da natureza.
No cimo, capela da imagem aparecida, igreja, mini-mosteiro, hotel, restaurante e cafetaria. Dezenas de turistas jogavam à defesa contra o virus: põe máscara, tira máscara, mantém distância! À imagem de Maria acendem velas e rezam, talvez a pedir graças de eternidade.
Conta-se uma aflição: numa das subidas àquela montanha abençoada: inesperadamente, disse o contador, um nevão, sem avisar, quase ao cimo, impedia o carro de avançar e de recuar. Valeu o acolhimento “quente”, no edifício da TV e o socorro de limpa neves. Na descida faz-se piquenique saboroso junto a fonte, antes de visitar, ali perto, a cidade típica de La Alberca, famosa por ter nas ruas um porco, a criar para a festa anual (só vi o de pedra); e dezenas de lojas cheias de presuntos de pata negra.
> Pe. Aires Gameiro