"Labirinto da Saudade", hoje, RTP-1 (20H45)
Um símbolo maior da cultura contemporânea Portuguesa, pensador e sénior de referência no nosso país e na Europa, o Prof. Eduardo Lourenço completa, hoje, 95 anos de idade.
Em sua homenagem, estreia-se, também hoje, o filme "O Labirinto da Saudade", baseado num dos seus livros mais emblemáticos, uma espécie de documentário promovido por um grupo de amigos, em que o escritor também é actor, ao lado de Álvaro Siza Vieira, Ramalho Eanes, Lídia Jorge, Pilar del Río, entre outros.
Eduardo Lourenço já admitiu que "entrou no filme sem saber que estava a entrar num filme" e considera haver uma "tal incompatibilidade" entre ele e ser protagonista de um filme.
Neste dia 23 de Maio, passam 35 anos sobre a morte do escritor Horácio Bento de Gouveia. Natural da freguesia de Ponta Delgada (Madeira), nasceu em 1901 e destacou-se ainda como cronista, conferencista, colaborador assíduo da imprensa regional e professor no antigo Liceu Nacional do Funchal.
A sua obra, traduzida por vários romances e de teor regionalista, "está praticamente toda esgotada", deverá ser publicada na íntegra, em 2019, pela Direcção Regional de Cultura (DRC), no âmbito das comemorações dos 600 anos da descoberta da Madeira e do Porto Santo.
Para assinalar a data da sua morte, decorre hoje, no Centro Cultural de Vila das Aves, freguesia do concelho de Santo Tirso, uma cerimónia de apresentação do livro " Escritos 6", da autoria da sua filha, Fátima Gouveia Soares; um CD da Casa-Museu Dr. HBG, de Maria Adelaide Valente, uma escritora que há anos ganhou o prémio literário Horácio Bento de Gouveia; e a leitura do conto "Açucenas", por António Luís Gouveia Soares, um dos bisnetos do autor madeirense que conviveu com os grandes da literatura portuguesa no século XX, como Aquilino Ribeiro e Ferreira de Castro, e foi um seguidor do Fialho de Almeida.
Empobrecer a sociedade portuguesa
Professor Marcelo Rebelo de Sousa, 69 anos, 20.º presidente da República Portuguesa, desde março de 2016. No visor da política é visto como uma figura ímpar, paladino das selfies e dos afectos. De tudo diz, sobre tudo comenta. Nas funções de jornalista, estou a vê-lo, com o sorriso de sempre, no planalto do Chão da Lagoa, a falar para milhares de pepedistas estarrecidos ao sol, num comício com mais de 50 mil almas. Era então líder do PPD/PSD.
Décadas depois, vejo-o em Chefe de Estado, imparável, ora a apagar incêndios ou a nadar no mar de Cascais, a dar uma no cravo e outra na ferradura, a malhar e a elogiar, de extremo a extremo, cada dia mais interventivo e líder de audiências. Encarna a figura que o povo gosta. Muito longe do cata-vento que o antigo primeiro-ministro Passos Coelho o epitetou.
Outra face surge, outrossim, do outro lado do visor. Não a rezar o terço (todos os dias) ou a dormir poucas horas por noite, refiro-me aos excessos que roçam, por vezes, à rudeza, pelo modo como aborda determinadas questões. Dizer, por exemplo, que se sentiu “vexado” pelo que aconteceu na Academia do Sporting que poderá “empobrecer a sociedade portuguesa”, é de dar revoltas no estômago de qualquer um. Como diz o mais velho cidadão da minha rua: deve estar a brincar!
Então o Prof. Marcelo quer fazer acreditar que Portugal é uma potência do futebol mundial, pelo facto de ter ganho um campeonato da Europa. Como ganhar, por si só, é ser o melhor? Ganhar mais é saber mais? Ser rico é ser mais inteligente? Sabe, com certeza que sabe, que o futebol tem muito mais sucesso social, cultural, económico e financeiro do que um troféu europeu ou mundial? Cenas como as do Sporting acontecem em clubes alemães, ingleses e franceses, para citar apenas clubes da Europa (porque na América do Sul, África e na Ásia, o tocar a alinhar é pão nosso de cada dia).
Portugal não fica mais pobre com as contingências do futebol. Só Cristiano Ronaldo promove mais Portugal do que o “todo futebol” português. Portugal está pobre é por não ter políticas de governação capazes de reconhecer e promover o devido valor que os portugueses têm.
Então o Prof. Marcelo vem dizer que “não podemos ter dois Portugais”, a frase entre aspas é vossa. Acrescenta que “não podemos fazer de conta, gostamos muito de fazer de conta”. Desculpe… a ser assim como diz, a quem chamar à responsabilidade? Obviamente, o Presidente da República (Prof. Marcelo), em primeiro lugar...
(Imagem CMTV.)
Selfies, afectos, abraços e tantas outras manifestações de álbum familiar não bastam. É chapa para a fotografia. É que envergonha o país (… e que o Prof. Marcelo devia ficar vexado) é ver o elevado número de mortes nas estradas portuguesas; mulheres vítimas de violência doméstica e algumas assassinadas; falta de pessoal e de meios nos hospitais; baixos salários; idosos com reformas de miséria; trabalho digno; bairros de lata em Lisboa (Camarate é um triste exemplo), para citar apenas alguns pontos que empobrecem e envergonham Portugal.
A realidade portuguesa é muito mais dura do que o chutar para a frente do futebol. Violência, jamais.
PS: A 22 de Maio de 1966, Américo Thomaz, último presidente da República do antigo regime, entregava a Taça de Portugal ao capitão do Braga, no estádio do Jamor. Em Maio de 2018, o acto repete-se, apenas os interpretes são outros. O futebol é bola de popularidade e de votos para os políticos.
Museu do Aljube Resistência e Liberdade. Rua Augusto Rosa, 42 (Lisboa)