"Uma porta é uma faca. Ela divide o mundo em duas partes". A frase é de Nelly Sachs (1891-1970), poeta e escritora judia alemã, Prémio Nobel da Literatura, que se tornou porta-voz dos dramas do nazismo e II Guerra Mundial na Europa.
A afirmação, ainda que agressiva e desafiadora, está eivada de um realismo que, infelizmente, continua presente na vida dos povos e das populações... Ninguém pode ficar indiferente, por exemplo, ao que se passa no Médio-Oriente, em particular nas terras de combate entre israelitas e palestinianos, no poder externo de superpotências que promovem mais a paz do que a guerra.
Num dia de festa, a propósito da declaração do Estado de Israel (14 de Maio de 1948), assistiu-se a uma degradação das relações entre dois povos: de um lado, foguetes, enquanto do outro tiros e bombas causavam dezenas de mortos e milhares de feridos..., como se tudo isto fosse normal, uma situação que já não tivesse acontecido antes... E, pergunta-se:
O mundo está deveras louco? O holocausto só aconteceu no passado? O que explica que a paz e a violência tenham de caminhar juntos? Estas questões não são de agora, mas cada vez mais exigem uma profunda reflexão... No pensamento da filósofa Hannah Arendt (1906-1975), também de origem judia e alemã, que sofreu a perseguição e os horrores da guerra:
> O poder e a violência, embora sejam fenómenos diferentes, surgem habitualmente juntos. Sempre que se combinam, é o poder, como já sabemos, o factor primeiro e predominante. Todavia, a situação é inteiramente diferente quando lidamos com ambos no seu estado puro, como acontece, por exemplo, quando ocorre uma invasão e uma ocupação estrangeira".
Perante tanta consequência nefasta, destrutiva, o mundo só pode estar em alerta permanente, com a consciência de quem está a viver "Os últimos dias da Humanidade", conforme o título de um livro do grande escritor Karl Kraus (1874-1936), dramaturgo, jornalista, ensaísta, e poeta austríaco.