Sem cultura a liberdade é uma utopia
A ignorância, na definição geral, até pode ser falta de saber, de conhecimento, pura ingenuidade, ou falta de informação atempada sobre determinado assunto; mas, poderá também significar intenção premeditada, preconceito, conluio, medida ou decisão para deixar a maioria de cidadãos e povos à mercê de arbitrariedades permitidas sob a capa democrática da legalidade.
Nada de novo quanto a estes aspectos, a não ser os meios para os colocar em prática, como explica o filósofo Thomas De Koninck no seu livro (publicado em português em 2003), “A Nova Ignorância e o Problema da Cultura”. A sua leitura continua a ser obrigatória, por causa da flagrante actualidade que encerra.
Logo no prefácio, o filósofo e professor na Universidade de Laval, no Canadá, chama a atenção para a existência de duas ignorâncias bem patentes no mundo actual: «Existem, na realidade, duas formas de ignorância que poderíamos qualificar como «novas», mas que são diametralmente opostas. A primeira abre e liberta, a segunda aprisiona e mata.
Outrora denunciada e combatida na sua forma primitiva por Sócrates, regressou hoje em força, como as antigas doenças infecciosas cujas bactérias conseguem adaptar-se e resistir aos medicamentos mais potentes. É esta que constitui o tema e a que chamamos, de forma resumida, a nova ignorância».
Mais à frente, nem tem dúvidas ao afirmar: «Como tentaremos mostrar, as consequências práticas da nova ignorância, as suas manifestações e os seus sintomas são, de facto, de grande diversidade e omnipresentes. O seu traço comum é a destruição da cultura e, por conseguinte, do humano. Sendo o seu oposto tudo o que confere sentido à cultura, não podíamos fugir a esta questão, que merece um tratamento pelo menos igual.»
Parafraseando um dos slogans do "Maio de 68", há 50 anos, precisamente: "É proibido proibir", urge dizer: há que acabar com as cadeias, as prisões, as mentiras, as falsidades, as ignorâncias que acontecem à nossa volta, porque não podemos ficar reféns das "novas ignorâncias", apesar do aumento de conhecimentos e catadupas de informação, como explana muito bem Thomas De Koninck neste livro que aqui citamos como sugestão de leitura: