Um livro inédito de Herberto Helder (1930-2015), “em minúsculas”, que revela uma faceta menos conhecida do poeta, a de repórter em Angola, no semanário Notícia, é publicado esta semana, no dia 4 de Maio, pela Porto Editora.
Trata-se de um conjunto de crónicas e reportagens realizadas pelo poeta, um trabalho jornalístico realizado entre Abril de 1971 e Junho de 1972, em que o autor assinou como Herberto Helder e Luís Bernardo. O livro resulta da investigação, transcrição, revisão e selecção de textos por Daniel Oliveira, filho do escritor, Diana Pimentel e Raquel Gonçalves.
Daniel Oliveira assina o prefácio, no qual se lê: “Se perguntassem a Herberto Helder se alguma vez foi jornalista é possível que respondesse, com um sorriso irónico ou até alguma irritação, que não. Diria, talvez, que escreveu no Notícia para poder viver em Angola. Assim como antes escrevera em jornais da metrópole por ‘coisas de dinheiros’”.
“E se olharmos para o jornalismo que quotidianamente era e é feito é justo dar-lhe razão. Recusa a impessoalidade competente, foge da narrativa de consumo confortável, não se compartimenta em géneros com as suas respectivas receitas e sorri de quase tudo, que é o que quase tudo merece”, prossegue Daniel Oliveira.
Natural do Funchal, Herberto Helder matriculou-se, em 1948, na Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa, que cedo abandonou para se inscrever em Filologia Românica, na Faculdade de Letras, que frequentou durante três anos.
Em 1958 estreou-se literariamente com “Poesia – O Amor em Visita” e, ao longo da vida, publicou cerca de 40 títulos poéticos, que de algum modo conjugou em “Ofício Cantante - Poesia Completa”, de 2009.
Após a sua morte, em 2015, foram publicados “Poemas Canhotos” (2015) e “Letra Aberta” (2016). Na área da narrativa são conhecidos mais três títulos: “Os Passos em Volta” (1963), “Apresentação do Rosto” (1968) e “A Faca Não Corta o Fogo” (2008).
Ao longo da vida Herberto Hélder teve diferentes trabalhos e colaborou em vários periódicos como A Briosa, Re-nhau-nhau, Búzio, Folhas de Poesia, Graal, Cadernos do Meio-dia, Pirâmide, Távola Redonda, Jornal de Letras e Artes.
Em 1969 assumiu o cargo de director literário da Editorial Estampa. Em 1971, depois de ter viajado pela Bélgica, Holanda, Dinamarca, partiu para África onde fez uma série de reportagens para a revista Notícias.
Em 1994, foi-lhe atribuído o Prémio Pessoa, que o poeta recusou.
Durante muitos anos as mercearias portuguesas, nos meios rurais, de tudo vendiam um pouco. Cereais, pão, açúcar, feijão, sapatos, botas, loiça, alguidares, facas, toalhas, meias, sabonetes, etc.etc. Uma prática comercial que está a regressar nos tempos que correm, com boa receptividade.
Na cidade do livro (Óbidos, Portugal), onde vamos encontrar o maior número de livrarias por metro quadrado, já é possível comprar legumes, fruta, pão caseiro, azeite, vinho, e outros bens alimentares, no espaço livreiro. É ver os clientes a comprar livros, cebolas e vinho, por exemplo, no mesmo local, a pagar na mesma caixa registadora, a transportar na mesma sacola. Tudo é cultura! E que bem que faz.