Compreensão do político
e religioso em conflito complexo
Santos Inocentes e Epifania formam um só drama. Ao dizer a jovens que se ia celebrar a festa dos cinco reis, perguntaram: cinco? Uma jovem acertou nos cinco. Sim, são cinco e formam três lóbis; um mau e outro o divino (e sua companhia) a quem os três querem adorar, e o terceiro, a maioria, observa, procura.
A narrativa simbólica de Mateus dos três magos ou sábios do oriente narra o primeiro julgamento de Jesus, semelhante ao da Paixão. Na Epifania-Reis antecipa-se o julgamento de Cristo: deve morrer, decide Herodes. No de Jerusalém contracenam três lóbis: Cristo e as suas testemunhas, as crianças, os pastores, os pobres; o segundo do Sinédrio e os seus magistrados acusadores decidem: deve morrer; o terceiro é o público massificado, indiferente; ou curioso que procura.
Alguns buscam a verdade. É multidão manipulável. O Sinédrio-sacerdotes compra Judas, manipula Pilatos e lava o cérebro à multidão, decide que Jesus Cristo, o inocente, Deus feito homem, deve morrer; ele e os que acreditam e o seguem, tal como hoje.
No cenário dos três reis sábios do Oriente à procura do Rei dos judeus para o adorar, com efeito, há três grupos. O Deus Menino com Nossa Senhora, S. José, Santa Isabel, a que se juntam os pastores, os pobres, os pequenos e os três reis magos vindos de longe.
Forma o segundo grupo o rei rival Herodes, cheio de raiva, hipócrita, fantoche do poder romano; finge estar ao lado dos três fiéis adoradores, mas, astuto, já congemina matar o Menino-Rei, suposto rival, enganando os sábios seus adoradores.
No mesmo grupo, os príncipes dos sacerdotes e os escribas. E logo, às suas ordens, os soldados assassinos dos bebés da idade de Jesus Menino. E o terceiro lóbi? É um grupo indefinido de indiferentes, de acompanhantes dos magos, das famílias das crianças assassinadas. Incluem-se os que guiam e acolhem a Sagrada Família no Egito.
A maioria deste grupo é dos que nem sim nem não, nem dum lado nem do outro. Nem adoradores nem perseguidores do Rei Menino. Os indiferentes, relativistas agnósticos do cenário da Epifania como os da multidão diante de Pilatos. Só uma parte busca Jesus com sinceridade.
Neste julgamento de Belém desenrola-se a astúcia mentirosa de Herodes e a indiferença de não fazer nada. O Menino está condenado a ser morto e com ele tantos outros meninos do lado de Jesus pelos do lado anti-Jesus. Muitas tentativas de julgamentos semelhantes se repetiram na vida de Jesus.
E o desfecho veio trinta e três anos mais tarde diante do Sinédrio, da sua camarilha de legalistas e de Pilatos. Sinedritas, príncipes, fariseus, escribas levaram a multidão a pressionar o “rei” Pilatos, o representante da maior potência desse tempo.
O poder político religioso amedronta e fá-lo marioneta. Aceitou trocar Jesus, o inocente silencioso, pelo criminoso Barrabás e condenou Jesus à morte na cruz.
Ao lado de Jesus, ficaram firmes poucas mulheres, sua Mãe, João Evangelista, alguns apóstolos e discípulos com o Pedro, fraco, renegado e arrependido, os pobres, doentes e pequenos do Evangelho, o bom ladrão...Da massa dos indiferentes destacam-se os desejosos da verdade e justiça de Jesus: José de Arimateia, Nicodemos, o Centurião e outros.
Os julgamentos do Natal e do Pretório repetem-se milhares de vezes com Cristo e seus fiéis, os mártires no Império Romano, tempos dos bárbaros, guerras maometanas, perseguições político religiosas do século XVI, Revolução Francesa, nos países de missão, carnificinas nazis, comunistas, em dezenas de países, e vários golpes republicano-maçónicos até aos de hoje.
Em todos os fenómenos a mistura do político e do religioso, com três lóbis contrapostos, está presente e convida a perguntar: onde está Jesus Cristo e os seus fiéis; onde estão os continuadores do Sinédrio?
E as multidões dos indiferentes, agnósticos, relativistas, ateus militantes, e alguns movidos pela retidão e sinceridade que buscam Cristo e as suas presenças e rostos, os pobres, doentes, mártires da fé.
Quanto mais se analisa este paradigma de compreensão do político e religioso em conflito complexo, mais se descobre que ajuda a entender o contraste entre o kosmos (em grego=ordem) cristão e o kaos (desordem) anti-cristão em que muitos arriscam perder-se.
Não se vislumbra um paradigma de compreensão alternativo. E de ordem cristã? Contudo, os “sinedritas”, e os herodes de todos os tempos, teimam impor o cosmos do messias-rei-dinheiro contra o Rei Menino de Belém.
(Funchal, Epifania de 2018 / Aires Gameiro)
Na próxima quarta-feira (10 de Janeiro), entre as 18 e as 21 horas, a "Livraria Leituria", na rua D. Estefânia, em Lisboa, acolhe uma Sessão de Homenagem ao poeta Casimiro de Brito, com leitura de poemas.
Por ocasião dos 80 anos do poeta, o PEN Clube Português, associação da qual Casimiro de Brito foi Presidente, durante vários anos, decidiu render-lhe uma homenagem informal, convidando todos a estarem presentes para uma leitura de poemas.
Casimiro de Brito nasceu em Loulé, em 1938. Viveu a sua infância na região algarvia e frequentou a Escola Comercial de Faro. Depois de uma passagem por Londres, em 1958, fundou e dirigiu com António Ramos Rosa os "Cadernos do Meio-Dia" (1958-60), onde se revelaram os poetas do grupo Poesia 61. Fixou-se em Lisboa, em 1971, desempenhando funções no sector bancário, depois de ter vivido três anos na Alemanha.