Vivo muito o presente, à minha maneira
Despediu-se do palco e da representação, em 2005, mas é uma presença constante na memória do público que se interessa em especial pelo teatro. Falamos de atriz Carmen Dolores que apresentou há poucos dias, no Teatro Aberto, em Lisboa, mais um livro de memórias e reflexões, intitulado "Vozes Dentro de Mim".
Neste novo título, Carmen Dolores, de 93 anos, argumenta que não é saudosista, mas defende que não se devem esquecer “os bons momentos” e “as pessoas que já não estão connosco”.
A ideia deste livro, conta a autora, “surgiu inesperadamente” num recital do pianista Grigory Sokolov, em Lisboa. O recital fê-la reviver os tempos da infância, na casa dos pais, em Lisboa, na rua Visconde de Valmor, onde se ouvia música numa “grafonola, companheira de muitos serões”.
A atriz adverte que quem ler o que escreve pode pensar que vive “obcecada pelas memórias do passado”, mas não, acrescenta: “Vivo muito o presente, à minha maneira”. Todavia, a atriz, que protagonizou “Espingardas da Mãe Carrar” e “Danças da Morte”, segundo versões de Jorge Listopad, argumenta que não se deve “esquecer os bons momentos já vividos e as pessoas que já não estão connosco e nos ajudaram a ser o que hoje somos”.
“Eu, que pretendo não ser uma saudosista, reparo que a palavra saudade parece envolver como uma sombra quase tudo que escrevo”, afirma. Todavia, garante: “Não é saudade o que sinto. É voltar a viver esses momentos, agora com uma quase felicidade que não soube aproveitar na altura própria”.
A obra divide-se em quatro partes — “Porquê outro livro de memórias?”, “Elas, as personagens”, “A palavra dita, a palavra escrita” e “Agora vou divagar, apenas por divagar”. O livro, editado pela Sextante, inclui ainda fotografias de cena e de pose de Carmen Dolores, mas também de outros atores.
Às memórias de vida, Carmen Dolores, nesta obra, acrescenta reflexões suas e apontamentos sobre colegas de palco.
Numa reflexão sobre a obra, agora levada à estampa, Carmen Dolores afirma que “valeu a pena publicar”, tal como sentiu quando publicou o segundo livro “No palco da memória” (2014), que sucedeu a “Retrato Inacabado” (1984).