Florbela Espanca (1894-1930), a poetisa da melancolia e das emoções magoadas, partiu na mesma data em que nascera, em Vila Viçosa, no dia 8 de dezembro..., através do suicídio. Não conheceu, desde a sua infância, uma harmonia familiar.
A mãe era uma mulher do povo e empregada do proprietário João Maria Espanca que só reconheceria a paternidade da filha muitos anos após a morte de Florbela. O seu mundo interior, dorido pela falta da mãe e de afetos dos pais, cedo foi preenchido pela poesia.
Aos nove anos, escreveu o seu primeiro poema, intitulado "A Vida e a Morte". Casou-se, pela primeira vez, em 1913, no próprio dia do seu aniversário natalício.
Concluiu um curso de Letras, em 1917, inscrevendo-se a seguir em Direito, sendo a primeira mulher a frequentar este curso na Universidade de Lisboa.
Aos 25 anos, publica o "Livro de Mágoas" e começa a dar sinais de algum "desequilíbrio mental". Segue-se o divórcio e um segundo casamento...; a publicação de "O Livro de Soror Saudade" e um terceiro casamento... Entretanto, a morte do seu único irmão, Apeles (num acidente de avião), abala-a profundamente e dá-lhe razões para escrever "As Máscaras do Destino."
Tentou o suicídio por duas vezes (em outubro e novembro de 1930), na altura de publicar a sua obra-prima, "Charneca em Flor"... Padecia então de um edema pulmonar e resolve acabar com a vida no dia do seu aniversário, 8 de dezembro de 1930.
"Precursora do movimento feminista em Portugal, teve uma vida tumultuada, inquieta, transformando os seus sofrimentos íntimos em poesia da mais alta qualidade, carregada de erotização e feminilidade", referem os especialistas.
Um dos poemas de Florbela Espanca mais conhecidos é "Perdidamente!", cantado por Luís Represas.
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Eu quero amar, amar perdidamente! / Amar só por amar: Aqui... além...
Mais Este e Aquele, o Outro e toda a gente... / Amar! Amar! E não amar ninguém! Recordar? Esquecer? Indiferente!... / Prender ou desprender? É mal? É bem? Quem disser que se pode amar alguém Durante a vida inteira é porque mente!
Há uma Primavera em cada vida: / É preciso cantá-la assim florida, / Pois se Deus nos deu voz, foi pra cantar! E se um dia hei de ser pó, cinza e nada / Que seja a minha noite uma alvorada, /Que me saiba perder... pra me encontrar...
(Florbela Espanca, in "Charneca em Flor")