Bom para a economia, mau para a saúde
No final deste mês de Outubro, os relógios vão atrasar uma hora, dando-se assim início ao chamado "horário de Inverno", uma mudança que, segundo alguns especialistas, tem impactos negativos na saúde pessoal, a par de pretensos benefícios para a vida em sociedade. Para Miguel Meira Cruz, da Associação Portuguesa de Cronobiologia e Medicina do Sono, a mudança da hora “é mais um exemplo do predomínio de interesses económico-financeiros, que vigora no mundo, em detrimento daqueles dirigidos à promoção da saúde”.
Ao longo do ano, temos duas mudanças de hora, sendo que a primeira é a "hora de Verão", em Março. Sobre as razões que justificam a necessidade desta mudança, o astrofísico Rui Agostinho, do Observatório Astronómico de Lisboa e professor na Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa, explica que a mudança de hora “está associada ao problema das guerras e dos combustíveis. Nós utilizamos combustível para gerar eletricidade, mas na altura da I Guerra Mundial esse combustível também fazia falta para o esforço de guerra e creio que isso é que levou ao problema.
Os combustíveis líquidos foram usados fortemente para isto, deixando a "seco" as cidades e as populações que lá viviam e que não estavam diretamente envolvidas na guerra”. Consequentemente, “foi vendida essa ideia de que (a mudança de hora) seria uma questão de poupança de combustível, mas na prática foi para redirecioná-lo ao esforço de guerra”.
Nos dias actuais, a questão continua a colocar-se, mas por motivos económicos e "bem-estar" das pessoas. “Agora a discussão é mais em torno do facto de as pessoas se sentirem ou não bem a fazer isto. É uma questão de dar conforto às pessoas. Se as pessoas se sentirem bem, mantém-se. Quando se chegar a acordo de que já não é assim tão bom, então lá chegará a altura em que os países europeus vão dizer "este ano já não vamos fazer". Mas, na realidade, isto não é definido ano a ano, mas sim para prazos de cinco anos. Enquanto a maioria disser que é benéfico, tendo em conta o que as pessoas sentem, e não porque se gasta mais ou menos, é uma mudança a manter”, considera o astrofísico português.
Recuando até ao início de tudo, recorde-se que a mudança da hora, com o objetivo de poupar energia, foi falada pela primeira vez há séculos (na altura para poupar velas) e um dos primeiros que a sugeriu foi o cientista, inventor e político norte-americano Benjamim Franklin (1706-1790); mas a ideia só foi posta em prática a partir da I Guerra Mundial (1914-1918), principalmente na Europa, com a maioria dos países a aderir à medida, incluindo Portugal.
Em África, a hora é inalterável na maior parte dos países, o mesmo acontecendo na Ásia, mas no continente americano há mais países que também têm hora de Inverno e de Verão (mas, ainda assim, são mais os que não mudam do que os que mudam).