Jornalismo vítima de "lock-outs"
Num mundo de informação às catadupas e difundida por meios nunca dantes disponíveis, é tremenda a desinformação, parcialidade e inquinação. Os valores éticos da notícia estão a ser substituídos por um “vale tudo”, como um produto fabricado e desenhado à medida dos interesses dos investidores. O referendo na Catalunha foi, em termos de notícia, um “pão amassado” sob lamentáveis ingredientes de podridão.
A culpa é do governo da Catalunha, como se para haver um contra não haja outro contra. O governo de Espanha e seu Rei, não têm culpa alguma. O inferno está na Catalunha e o Céu em Madrid. Diabinhos catalães e anjinhos madrilenos. A máquina noticiosa do governo espanhol foi trituradora para a questão catalã. Como se não bastasse ouviu-se espanhóis de outras regiões de Espanha a considerar que o referendo na Catalunha só teria validade se todos os espanhóis votassem. Um monstro mentecapto que o governo aceitou, sem reagir.
Imagine-se o Porto a reivindicar mais autonomia para a região norte. O processo mais transparente seria a realização (consulta ao povo) de um referendo junto dos seus cidadãos (entenda-se eleitores da região norte). No entanto… os outros portugueses de outras regiões entendiam que também deviam participar no referendo. E o governo ratificava. O voto de uma grande maioria a interferir decisivamente numa pretensão regional.
Para quem deu atenção às notícias vindas de Espanha (jornais, revistas, televisão, rádio e redes sociais), a Catalunha tem tanta razão quanta razão tem Espanha. A luta entre David e Golias, para esta questão, é uma quimera. Ao não aceitar sentar-se à mesa para debater o problema, olhos nos olhos, antes refugiar-se na Constituição, o governo espanhol e seu rei estão a revelar inquietações e falta de argumentos concretos. “Quem não deve não teme”, velha frase que aqui se aplica. São complexidades e divisões que têm tanto de dualismo como de figurinhas e figurões.
É neste emaranhado do “falo eu, falas tu” que a comunicação social faz gravitar os linguados noticiosos. As diferenças de abordagem e conteúdo sobre um mesmo acontecimento chegam a ser antíteses. É o jornalismo vítima de "lock-outs", para além de parcialista, subserviente e opinativo. Assim, não!