Costa Carneiro, João Godim, João Isidro, José Gomes Mota, Domingos Grilho Serrinha e Luís Soares (a partir da esquerda), jornalistas da imprensa com rigor. Bons velhos tempos.
> “Ao jornalista pede-se um jornalismo asceta e não opinativo, sem ser desagradável”, disse-me amavelmente Poças Monteiro, director do Record, à época trissemanário e hoje diário desportivo. Era eu um jovem jornalista com responsabilidades de noticiar, comentar e reportar todo o desporto profissional, a nível nacional e internacional, realizado na Madeira.
Habituei-me, desde cedo, a fazer comentários aos jogos do Marítimo com o Benfica, Porto, Sporting e demais equipas, disputados no estádio dos Barreiros, bem como de jogos da selecção nacional, ali realizados, sob a regra asceta
Não opinava, descrevia as peripécias do jogo tal e qual, fosse para uma, duas ou mais páginas. Quando hoje vejo páginas e páginas de notícias sem informação sucinta, objectiva e inequívoca, mas a transbordar de opinião, penso logo em Poças Monteiro. Terá isto a ver com a liberdade de expressão?
A verdade é que nunca houve tanta notícia com tão pouca informação como agora. Nem nunca os jornais tiveram tiragens tão baixas como presentemente". (Memória do Repórter).
NB: Tivemos, hoje, conhecimento do falecimento, em 2002, do colega e amigo Costa Carneiro. Paz à sua alma.
Portugal é o único país da Europa sem ligações marítimas para o transporte de passageiros entre o continente e as ilhas. A Espanha, Inglaterra, Itália, Grécia e outros países mantém viagens permanentes entre as suas ilhas e o continente. Portugal abandonou as viagens marítimas entre o continente, os Açores e a Madeira, com enormes prejuízos para açorianos e madeirenses.
Portugal decidiu pôr fim às viagens marítimas para as ilhas contra a vontade de quem lá vive. Portugal deixou as ilhas sem navios, ou seja, sem transporte marítimo de passageiros. Ficou a promessa de manter um navio a fazer as ligações, uma vez por semana. Decorridas quatro décadas nada feito. Açorianos e madeirenses apenas têm o avião cujas viagens chegam aos 500 euros (ida e volta). O navio prometido pela República terá encalhado no terreiro do paço.
Políticos e governantes de palavra (sem palavra) são aos molhos, nos tempos que correm. Naquele tempo... Era outro tempo grandioso, em termos de valorização dos grandes feitos e personalidades, e que dava nomes célebres até aos barcos da carreira comercial e transporte de passageiros...
Portugal orgulhava-se de ter uma marinha mercante a sério, com navios e instituições de vasta referência, como o navio "Funchal" que foi lançado em 1961, no mês de Outubro, no mar da Dinamarca, país onde foi construído sob encomenda da empresa da Empresa Insulana de Navegação, sendo o projecto do Almirante Rogério d'Oliveira.
Além do "Funchal" - que identificava a primeira cidade construída pelos portugueses fora da Europa, no século XV, havia os navios "Príncipe Perfeito", "Santa Maria", "Vera Cruz", "Pátria", "Infante D. Henrique", "Império", "Niassa", "Carvalho Araújo", "Ana Mafalda", "Lima"...
Muitos destes navios foram construídos em estaleiros nacionais. A partir da década de 60 do século XX, alguns destes barcos foram utilizados para o transporte de militares para os territórios ultramarinos, em guerra. Até que o governo da República mandou "abater" a maioria destes navios, deixando-nos para sempre mergulhados nas profundidades dos oceanos de lembranças e saudades.
NB: Nas imagens, os navios: Funchal, Santa Maria, Ana Mafalda e Carvalho Araújo, que muitos milhares de portugueses transportaram entre Lisboa, Madeira e Açores. Muitos recordam essas viagens de 24 horas, muitos lamentam a decisão do governo da República de deixar ao abandono as ilhas. Os transportes marítimos muita falta fazem a quem não tem outras alternativas ao avião.