Está a completar 107 anos que Portugal pôs fim à Monarquia. Depois de oito séculos de monarquia ininterrupta e ante uma fase de graves problemas sociais /económicos e financeiros, a mudança era inevitável. A implantação do regime republicano há muito que se posicionava. Não foi propriamente um “ataque surpresa”, como não foi a queda da ditadura em 1974 e a abertura ao regime democrático.
A 5 de Outubro de 1910, a implantação da República dava início à uma nova fase de governação em Portugal. Neste mesmo dia, assiste-se, no porto da Ericeira, concelho de Mafra, ao embarque para o exílio da família real portuguesa. Primeiro para Gibraltar (território inglês) e de seguida para Londres, a bordo do iate “Amélia”. A monarquia portuguesa vigorou entre 1139 e 1910, registando 35 monarcas (réis) e 4 dinastias.
À beira de um milénio de existência (1143-2017), Portugal é o país com as fronteiras mais antigas da Europa e um dos países mais antigos do globo. O português é a sexta língua mais falada no mundo e a terceira língua europeia mais difundida, a seguir ao inglês e ao espanhol.
(Abaixo): Imagens do embarque da família real na Ericeira, 1 de outubro de 1910.
O primeiro catedrático de Pedagogia
Nestes primeiros dias de Outono, recorda-se um dos grandes intelectuais português, infelizmente, hoje, esquecido, como tantos outros da sua geração - Delfim Santos (1907-1966). Filósofo, ensaísta e professor universitário, Delfim Santos foi o primeiro catedrático português de Pedagogia. Iniciou a carreira docente no ensino secundário e foi um dos pioneiros na adopção dos meios audiovisuais no ensino.
A sua obra vai do tratado filosófico ao ensaio, da crítica à crónica, e soma títulos como "Conhecimento e realidade", "Cultura e História", "Da Ignorância", "Filosofia e Ciência", "Meditação sobre Cultura", além de dezenas de outros títulos e de centenas de conferências e de artigos, em publicações especializadas ou em jornais diários de Lisboa.
Natural do Porto, Delfim Santos licenciou-se em Ciências Histórico-Filosóficas, na Faculdade de Letras desta cidade, onde teve por companheiros Agostinho da Silva e Adolfo Casais Monteiro.
Na década de 1930, fixou-se em Viena, como bolseiro do antigo Instituto para a Alta Cultura (IAC), para o estudo da Filosofia das Ciências. Seguiu-se Berlim, onde teve Nicolai Hartmann como tutor e onde veio a ser leitor de língua e cultura portuguesas. Mais tarde prosseguiu a investigação em Londres, na University College, e no Trinity College de Cambridge, para onde se exilara grande parte do Círculo de Viena, após a anexação nazi da Áustria, em 1938.
Fez o doutoramento, em 1940, na Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra, com uma dissertação sobre "Conhecimento e Realidade". Na cidade, aproximou-se do grupo Presença, de José Régio e João Gaspar Simões.
Em 1943, fixou-se em Lisboa, como assistente de Letras onde, em 1950, se tornou no primeiro professor catedrático de Pedagogia, em Portugal. Fundou o Centro de Investigação Pedagógica da Fundação Calouste Gulbenkian, no início da década de 1960, que dirigiu.
Os escritores José Cardoso Pires e Luiz Pacheco contam-se entre alguns dos seus alunos. Ao longo do seu percurso, privou com Hermann Hesse, Sigmund Freud e Mircea Eliade, além dos seus mentores, como os filósofos John MacMurray, Charlie Dunbar e George Edward Moore.
Delfim Santos morreu prematuramente, em finais de Setembro de 1966. Os seus escritos continuam actuais e à espera de leitores dedicados ou simples curiosos do intelecto mais profundo. A Gulbenkian publicou a sua Obra Completa.