As transições políticas e as políticas da memória vão ser objeto de uma Conferência Internacional que reúne em Lisboa – no âmbito da Lisboa Capital Ibero-americana da Cultura -, um vasto conjunto de especialistas e responsáveis de organismos nacionais e internacionais de preservação da memória das ditaduras no espaço ibero-americano.
Um momento para refletir sobre as revoluções e as contrarrevoluções que marcaram a última centúria da política e da cultura ibero-americana, num longo processo de democratização ainda hoje incompleto e perturbado.
Numa iniciativa do Museu do Aljube Resistência e Liberdade (EGEAC), a Conferência ocorre no Teatro Municipal S. Luiz, nos próximos dias 28 e 29 de outubro.
É comum afirmar-se que, em "democracia", o "povo é quem mais ordena", mas nem tudo é assim tão simples e clarividente. Conhecem-se as características deste regime político que, em termos gerais, e no dizer do grande estadista inglês W. Churchill, "é a pior forma de governo, à excepção de todas as outras que têm sido tentadas de quando em vez", afirmou Churchill, em 1947, faz agora 70 anos.
Além disso, a doutrinação sobre "democracia" não está esgotada, ainda tem muito que investigar e aprender. Assim acontece desde a antiga Grécia, como lembra o célebre filósofo britânico, de origem austríaca, Karl Popper, um dos teóricos da política em geral e uma das vozes anti-marxistas mais proeminentes do século XX, falecido, em 1994, aos 92 anos de idade. Popper explica que:
"Inicialmente, em Atenas, a democracia foi uma tentativa de não deixar chegar ao poder déspotas, ditadores, tiranos. Esse aspecto é essencial. Não se tratava, pois, de poder popular, mas de controlo popular. O critério decisivo da democracia é – e já era assim em Atenas – a possibilidade de votar contra pessoas e não a possibilidade de votar a favor de pessoas. Foi o que se fez em Atenas com o ostracismo. (…)".
> "Desde o início que o problema da democracia foi o de encontrar uma via que não permitisse a ninguém tornar-se demasiado poderoso. E esse continua a ser o problema da democracia. (…) Numa democracia, é essencial a consciência da responsabilidade, a responsabilização daqueles que detêm o poder e o exercem. Tudo gira à volta disso.
Responsabilidade significa responder a uma acusação. É nisso que consiste, fundamentalmente, o ser responsável. Dar respostas às críticas e afastar-se quando essas respostas não forem suficientemente convincentes. Trata-se, por consequência, não de conduzir o povo, mas de dar satisfação ao povo. (…)".
(Legenda desta imagem: Marinho Pinto, eurodeputado, ex-Bastonário da Ordem dos Advogados).